segunda-feira, 16 de março de 2015

Porto Olhos nos Olhos - Manuel Roberto e Mariana Correia Pinto

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
[Helena Rocio Janeiro - Artista Plástica, Colagens Coração o Ditador]

 "Desde criança que, como a casa da minha avó era antiga e cheia de coisas abandonadas, andava sempre à procura de objectos. Era uma miúda solitária, não tinha irmãos nem primos com quem brincar, e virava-me para aquilo. Fazia colagens e desenhos. A minha atracção por coisas antigas e pela colagem virá já desse tempo. Para encont...rar material, ando muito pela Vandoma, nas obras a assediar as pessoas, quando as vejo a deitar coisas fora, e ultimamente tem-me acontecido darem-me coisas. Há pessoas que conhecem o meu trabalho e que oferecem as revistas da avó. Deram-me fotonovelas dos anos 70. Nas minhas colagens, uso sobretudo coisas dos anos 20 e 30. A partir dessa altura, usa-se muita fotografia nas revistas e eu prefiro desenhos. Comecei este projecto, a que chamei Colagens Coração o Ditador, em Maio de 2012. Já tinha feito outras coisas com colagens, mas um dia comecei a pensar que estava a chegar aos quarentas e estava farta de não fazer mesmo aquilo de que gostava. Já tinha tido uma loja, trabalhado com acessórios de moda. Mas não era aquilo. Quando me dediquei às colagens a sério, rapidamente recebi super bom feedback. Não tenho muito jeito para o lado comercial da coisa, mas começaram a convidar-me para exposições e comecei a fazer o mercado Porto Belo e as pessoas foram conhecendo o meu trabalho. Impus um ritmo a mim mesma. E produzi (e produzo) muito. Quis também tornar a minha arte acessível a gente que normalmente não pode comprar arte. Há quem diga que vendo as coisas demasiado baratas, mas essa é parte da ideia. Tenho umas 500 peças feitas. Gosto de tudo o que faço, mas não sou apegada a nada. Gosto de dar continuidade às coisas, gosto que as revistas e imagens que vou tendo vivam de outra forma. E às vezes recorto verdadeiras relíquias que me poderiam valer um dinheirão só revendendo. Em geral, gosto de me divertir a trabalhar. Quando estou cansada do trabalho, faço uma pausa para fazer colagens digitais a gozar com os meus amigos. Às vezes, esqueço-me que há mundo lá fora. Os trabalhos solitários têm esse lado. Às vezes é triste. Mas, ao mesmo tempo, é ambíguo, porque às vezes estou com os meus amigos e estou a pensar na colagem que queria estar a fazer. Independentemente de tudo, costumo dizer que sou uma pessoa de sorte porque faço aquilo que gosto. Poucas pessoas têm esse privilégio. Apesar de andar sempre na corda bamba no sentido financeiro, é um privilégio. A maior parte do tempo, o meu problema não é ir trabalhar, é parar de trabalhar. Nasci no Algarve e cresci no Alentejo, mas considero-me do Porto. Já passei mais de metade da minha vida aqui. Vim para cá com 18 anos, fazer o curso de Artes Plásticas na ESAP. E nunca mais me fui embora. A não ser os quatro anos em que vivi no Sul de França. Não tenho família nenhuma no Porto, mas é cá que me sinto confortável. Gosto muito da cidade. Acho que está no bom tamanho. Não é muito grande, mas também não é muito pequena. Se tiver de me ir embora um dia terei sempre saudades. Não me importava de trabalhar alguns períodos fora, mas gostava de voltar sempre." 

 Portugal, Porto, 10 de Março de 2015
© Manuel Roberto e Mariana Correia Pinto
 
 
 
 

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